Capítulo 2 - Made In Brazil - Uma Dama de Ouro

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Nem tudo sai como o planejado


A emboscada

Uma olhada curriqueira no retrovisor e Nelson teve a impressão de estar sendo seguido. Ao parar num posto de combsutível, próximo à região metropolitana da capital, notou um carro vermelho que passou em velocidade reduzida. Preferindo dar um tempo até certificar-se do que poderia estar acontecendo, Nelson estacionou próximo à loja de conveniência e desceu. Perguntou se Érica queria alguma coisa, mas ela agradeceu a gentileza.

Enquanto era atendido, ele observou a calma que tomava conta da autoestrada. Por que o motorista do carro vermelho vinha tão próximo? Pergunta aos botões. Salvo engano, ocorreu-lhe a impressão de ter visto o mesmo carro uns dez quilômetros atrás. Sim, poderia estar sendo seguido. O código de sobrevivência de Nelson dizia que mesmo as impressões não podem ser deixadas de lado. Sentiu que alguma coisa poderia não sair como o esperado.

Pagou a barra de cereal que comprou e retornou cauteloso para o exterior da loja. Do outro lado da rodovia, um barranco coberto pela vegetação espessa, típica do litoral, se inclinava a perder de vista enquanto o vento agitava a copa de um eucalípto. Tudo parecia traquilo demais, analisou Nelson. É nessas horas que as coisas ruins acontecem, pressageou.

Mais um carro passou e ele disse para si mesmo que suas suspeitas poderiam não passar de impressões. Devia estar apenas um pouco mais estressado que o de costume. Mesmo assim, sem que Érica percebesse ele certificou-se de que poderia contar com um rápido saque da pistola que trazia embaixo do banco. Depois, girou a chave de ignição e arrancou pela pista livre que se extendia à frente, rumo a capital do estado. Só mais quinze minutos e chegariam ao aeroporto.

Nem bem andou dois quilômetros e Nelson teve mais uma oportunidade de ver o veículo vermelho que passou por ele na altura do posto, só que desta vez parado no acostamento, logo à frente.

Nelson cobrou de si mesmo uma rápida interpretação sobre esses episódios e não teve outra resposta a não ser: emboscada. Mantendo a velocidade do veículo, ele colocou a pistola sobre as pernas enquanto pediu para Érica subir o vidro totalmente.

Sem entender o que estava acontecendo, ela notou a arma na mão direita de Nelson, enquanto a esquerda cuidava do volante. Assustada, ela só teve tempo de pressionar o botão para elevar o vidro, que logo foi estilhaçado por um projétil. Olhou para Nelson e o viu revidar o fôgo.

__Abaixe-se, garota! Gritou ele, enquanto distribuía bala na direção do carro vermelho. Érica nem esperou esse comando e já foi jogando-se praticamente no assoalho do carro. Finalmente o barulho cessou e ela notou que Nelson continuava com o veículo na mesma velocidade.

__Voce está bem? __Perguntou Érica.

__Sim. E voce, como está?

__Acho que estou bem.__ Érica passava a mão pelo corpo verificando se não havia sangue.

Enquanto buscavam certificar-se melhor sobre afirmações precipitadas, ambos notaram que o veículo vermelho ganhava velocidade logo atrás.

__Dá para ver quantos são?__Perguntou Nelson.

__Acho que são dois.

Pé na tábua

Nelson agora amaldiçova a si mesmo por não dar maior crédito às impressões. Estava coberto de razão ao desconfiar de que estava sendo seguido. Só não sabia por quem, nem por que.

Uma coisa estava claro: os caras não estavam alí para brincar. Ele também não queria perder tempo. Explorou imediatamente toda a velocidade que o carro pode desempenhar e após três curvas sinuosas, mantendo o veículo no limite da estabilidade, viu-se livre dos perseguidores. Mesmo assim não deu trégua ao motor. Continuou veloz como um louco.

Enquanto dirigia, Nelson tentava encontrar o sentido encoberto por trás da emboscada, embora não julgava prudente comentar isso com Érica. Ela não passava de mais uma garota simples, que deixaria o país para se prostituir no exterior, enganada pelo sonho de trabalhar como modelo de uma agência internacional.

As garotas que trabalhavam para a SuperModel não passavam de uma meia dúzia de filhinhas de papai. Quase todos os dias, dezenas de garotas eram recrutadas para o Gusmão, que as encaminhava ao mercado do sexo no lado sombrio da Europa. Dificilmente Érica entraria para o grupo das doze modelos oficiais da agência.

Nelson também contava com a possibilidade do ataque ter sido apenas uma tentativa frustrada de assalto, ou os elementos poderiam ter confundido-o com alguém de quem queriam a pele.

Érica continuava em silêncio no banco do passageiro. O vento que entrava pela janela sem vidro açoitava seus cabelos loiros, lembrando a cena de um filme de ação. Ao vê-la assim, Nelson sorriu com o canto da boca apesar de apreensivo.

Ligações suspeitas

Ao cruzar o perímetro urbano, o celular de Nelson tocou. A chamada era a partir de um número fixo não constante na agenda do aparelho. Sem exitar, ele atendeu prontamente com um sonoro alô. Do outro lado da linha, o único som ouvido foi o de um aparelho sendo colocado no gancho.

Pela segunda vez o telefone tocou. Do outro lado, a pessoa apenas esperou ouvir a voz de Nelson, antes de desligar o aparelho outra vez.

__Que estranho! Dá até para pensar que,... Meu Deus!__Exclamou Nelson, demonstrando pavor.

__Cara, o que está acontecendo?__Perguntou ela.

A resposta foi uma manobra radical que Nelson fez com o veículo para mudar a direção percorrida. Entrando por uma rua paralela, o carro sumiu pelo subúrbio empoeirado que ladeia o acesso à capital.

__Pára o carro agora!__Ordenou Érica em tom de isteria.

Encostando o veículo na calçada, bem embaixo de uma árvore grande, Nelson tentou dar o mínimo de explicação a Érica. Não teria tempo para argumentar, mas também não poderia sair com ela aflita e cheia de dúvidas.

__Érica, sinto muito em te dizer, mas agora temos que mudar os planos.

__Por que?

Antes que ele dissesse qualquer palavra, um tiro passou raspando a cabeça de Érica, abrindo mais um buraco no para-brisa. Antes de reagir, Nelson conseguiu ver a cara do atirador dentro do mesmo carro vermelho que os perseguira na estrada.

Dessa vez não teve dúvida de que tratava-se de dois homens. E que, sem equívoco, queriam vê-los mortos a qualquer custo.

Atirando-se para fora do carro Nelson conseguiu colocar-se por trás de uma caçamba de entulhos que havia na calçada.

Eles tinham seguido Nelson e Érica sem serem notados ou alguém mais estava os rastreando de alguma forma. Nelson não sabia ao certo como isso estava aocntecendo. A coisa parecia pior do que podia imaginar.

Após trocar a munição da arma, Nelson abriu um novo leque de fogo, permitindo que Érica deixasse o carro para proteger-se com ele por trás da caçamba.

__Isso mesmo, princesa. Tem gente graúda querendo ver nossa pele do lado avesso.

__Como assim? Isso tem a ver com minha ida para Milão?

__É possível que sim, garota. Abaixe-se!

Ouviu-se o grito de um dos elementos em reação a um projétil da pistola de Nelson. Cerrando os dentes, ele investiu mais um ataque contra o elemento que permanecia de pé. Com um deles abatido, o outro buscava abrigo por trás do tronco de árvore.

Quando o estranho atirador tentou alvejar Nelson, recebeu um tiro no braço direito, deixando a arma cair. Mantendo-o na mira, Nelson avançou na direção do mesmo que correu ferido. Um tiro na perna não o deixou ir muito longe e Nelson logo o alcansou.

__Seu filho da mãe!__Exclamou Nelson com os dentes cerrados enquanto chutava as costas do elemento. __Quem o mandou para matar-me?

__Não digo droga alguma__Retrucou o beleado enquanto uma baba misturada com sangue fresco borbulhava de sua boca machucada.

No mesmo instante, o celular preso à calça do elemento tocou e ele abriu os olhos num evidente esforço de pegar o aparelho. Com um sorriso sacástico, Nelson pegou facilmente o celular e apertou a tecla verde. Do outro lado da linha uma voz chamou:"Alô Osvaldo! Deu certo o trabalho, cara?"

Como ninguém atendesse, a pessoa encerrou a ligação. O cara baleado dava o último suspiro sem revelar para quem trabalhava.

Nelson apanhou o celular e apressou-se em voltar para o carro, quando de súbito algo terrível lhe ocorreu: cadê Érica?

__Era só o que faltava, garota!__Esbravejou ele batendo no capô do automóvel. __Droga! Apareça menina!

Sem relutar um só istante, entrou no veículo e deu partida. Arrancou a toda velocidade, não o bastante para não ver pelo retrovisor o rosto de Érica. Engatando ré, fez o carro retornar ao encontro da menina que saía trêmula por trás do muro. Abriu a porta e ela entrou rápido. Um barulho de cirene já se fazia ouvir ao longe.

__Está louca, Érica! Quer ficar nesse fim de mundo?

Sem dizer nada, ela tentava recupera-se do choque enquanto o carro serpenteava os vários becos escuros do subúrbio.

Após algum tempo.

__O que queriam quando ligaram para voce?__Perguntou Érica olhando-o de lado.

__Saber se eu ainda estava vivo.__Respondeu ele sem desatentar ao volante.__Quando ouviram minha voz, descobriram que a emboscada falhou e ligaram então para os pistoleiros, a fim de checarem o andamento da operação "caça ao Nelson". Ao ver que ninguém atendia, deram por fracassada a tentativa de me matar. Agora eles sabem que eu estou vivo, e que seus enviados estão mortos.

__Quem?__Perguntou Érica.

__Boa pergunta.